Segundo o Dicionário Houaiss, podemos entender a expressão placebo como: "preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição de um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico". Adicionalmente, o mesmo dicionário conceitua o termo nocebo como: "substância inócua, cuja ação teoricamente não deveria produzir nenhuma reação, mas, quando associada a fatores psicológicos, acaba produzindo efeito danoso em alguns indivíduos". Em perspectiva prática, a literatura acaba vinculando os termos, principalmente a voltada às aplicações médicas. A noção que usualmente conhecemos é a de que se tratam de consequências prováveis de fortes expectativas ou de resultados decorrentes, ao menos em parte, das crenças do sujeito acerca dos procedimentos envolvidos. Apesar do ceticismo e da insegurança de alguns pesquisadores na abordagem da temática, o fato é que pensamentos e sentimentos habituais exercem uma influência muito maior sobre o organismo humano e as demais áreas da vida do que pode supor a nossa vã filosofia. Estou ciente de que ainda ocorrem exageros por parte daqueles que decidiram fazer uma espécie de imersão nas técnicas que poderiam permitir à pessoa algum controle sobre seus processos conscientes e inconscientes, mas isso não significa que tudo seja dispensável. Na realidade, tanto a abordagem cética quanto a crédula podem ter valor pedagógico. Se soubermos aproveitar o melhor dessas propostas aumentaremos as chances de superar os efeitos colaterais de ambas: do ceticismo, devido às consequências nefastas de um estado de dúvida crônica ou do risco de desesperança; da credulidade, devido à ilusão que o distanciamento de uma visão mais objetiva tende a provocar, entorpecendo os próprios sentidos. Intuitivamente é como se todos soubéssemos que é mais interessante, favorecendo a boa performance, a atitude de iniciar qualquer tarefa com a confiança de que serão obtidos bons resultados. Mas também sabemos que só por ingenuidade iria agir assim quem não se preparou de forma adequada para os desafios que irá enfrentar. Enfim, não se trata de uma disputa entre a visão realista e a otimista dos fatos, até porque o realismo exacerbado tende na verdade ao pessimismo, enquanto o otimismo desenfreado à ingenuidade. O ideal é que conciliemos esses aparentes opostos, mantendo os pés no chão e a percepção voltada também às potencialidades da vida. Precisamos ter em mente que muito do que consideramos trivial na atualidade um dia existiu somente como um sonho no imaginário de um idealizador, que, claro, trabalhou duro para materializar suas mais profundas aspirações. Não menos importante é a constatação de que, em regra, tendemos ao nível de nossas autoavaliações.
Conciliando realismo e otimismo
Ariovaldo Esgoti
04/04/2014