Nossa sociedade vive num ritmo tão frenético que corremos o risco de nos sentir incomodados pelo estado de calma aparente daquele que continua tocando a sua vida como se nada pudesse lhe abalar. O olhar apressado poderia até nos induzir a considerar que quem não demonstra níveis elevados de estresse deve ter um parafuso a menos ou é alienado. Afinal, gente que faz, por definição, se mantém em movimento, não? Como bem disse o humorista: a vida é uma caixinha de surpresas... Corremos muito, é verdade. Mas há um momento em que passamos a perceber que a velocidade pode ser nossa adversária. Em vez de nos aproximar do alvo, poderá nos distanciar dele cada vez mais. Noutra perspectiva, se o palavreado fosse por si a solução nossos congressistas seriam as pessoas mais eficazes do mundo. Se é que esse tipo de estratégia já funcionou realmente, nada mais poderia nos distanciar tanto da realidade, de uma vida produtiva de fato. Precisamos reconhecer que há uma ocasião oportuna para tudo na vida: tempo de agir, tempo de se acalmar; tempo de falar, tempo de se silenciar... A constatação é de uma obviedade assombrosa: podemos mudar algumas coisas, outras não. Ora, se não está ao nosso alcance determinar o fluxo das marés, o ciclo das chuvas, o pôr do sol etc., por que sofrer? Não, não vale a pena. É muito melhor focarmos no mundo que depende de nossa ação direta, de preferência reduzindo as chances de autossabotagem. Em outras palavras, devemos buscar viver de propósito. Talvez não venhamos a inscrever os nossos nomes nos anais da história, mas aumentaremos de forma expressiva as chances de que nossa história mereça ser contada, ainda que por uma única pessoa, cuja vida tenha sido influenciada por nossa passagem.
O momento é de calma
Ariovaldo Esgoti
28/03/2014