A arte de generalizar


A capacidade de generalizar é um recurso que, se for bem utilizado, pode ser um grande aliado nosso. Mas, o contrário também é verdadeiro, pois ela é capaz de aterrorizar a pessoa, ainda que seja bem intencionada. Imagine o tempo necessário, por exemplo, para aprender a abrir uma porta, de novo e de novo. Felizmente conseguimos aplicar a experiência em situações parecidas com as que vivenciamos. Quem aprendeu determinada lição acaba se desincumbindo de uma tarefa análoga com rapidez muito maior do que aquele que precisará aprender a fazê-lo passo a passo. Entretanto, nossa potencial aliada pode nos pregar algumas peças, se a deixarmos à vontade. Nós usualmente estamos cientes de que é preciso cuidado regular com a alimentação e a atividade física, já que as conquistas de um e outro dia não garantirão os demais. Assim como essas há uma série de coisas que continuamos fazendo, apesar de termos tido um bom desempenho em dada ocasião. Mesmo a criança que quer aprender a andar sabe por instinto que tem que se levantar após a queda. Bem, talvez até não o saiba. Pode ser que apenas se esqueça rapidamente da dor, mantendo o foco no alvo: andar a qualquer preço. De qualquer forma, não consta que elas tenham tido aulas de filosofia ou de lógica indutiva, mas é como se trouxessem consigo o conhecimento de que a generalização apressada é pecado mortal. Creio que este seja um dos possíveis significados das lições que metaforicamente nos estimulam a nos tornarmos como crianças. Elas normalmente não guardam rancor e se mantêm motivadas mesmo diante de fracassos, os quais não passam de resultados que nos convidam a rever a abordagem. Generalizar pode ser uma maldição, e também um dom. Afinal, temos o poder de decidir no que iremos nos concentrar. Quem sabe não seja por mera coincidência que o poeta tenha nos convocado: "Tente outra vez!".