Que uma obra de arte especial, uma bela música ou um poema marcante arranquem suspiros da maioria de nós praticamente não há dúvidas. Pena que isso não seja rotineiro. Na realidade, seria muito bom se nossas vidas estivessem tomadas por criações que engradecem a alma e alimentam o espírito. Seriam maiores as chances de criarmos um mundo melhor. O problema é que parecemos ter recebido outra configuração. Infelizmente, é como se tivéssemos sido programados para o erro, para o que atormenta ou para aquilo que destrói. Vivemos como se o que tem o poder de aniquilar a existência fosse dotado de encantos, sendo, assim, merecedor de toda a nossa devoção. Parecemos ter a tendência de apreciar o caos, o que talvez seja decorrente de termos sido submetidos a inúmeras sessões de repúdio ao próprio direito de viver com dignidade. Mas, essa condição não tem que ser definitiva. Não só pode como deve ser transitória. Por incrível que pareça, os mesmos processos que estão ativos quando focamos as tragédias, presumivelmente intuindo que pudessem fazer parte íntima de nosso dia a dia, podem ser direcionados ao que edifica o caráter, emancipa o espírito e alegra a vida. Numa simples expressão: é tudo questão de foco.
Programados para o erro
Ariovaldo Esgoti
04/03/2014