Há uma distância tênue entre se preocupar com os passos alheios, por desejar que os outros se privem de sofrimentos, às vezes, inúteis, e se alçar a uma condição semelhante a de juiz universal. Num dos polos sofremos porque desejamos o melhor dos mundos ao próximo, enquanto no outro extremo nos arrogamos o direito de decidir o bem e o mal em relação ao outro. O fato é que quando as escolhas do outro conseguem me incomodar, mesmo que não me digam respeito, tenho o indício veemente de que continuo carregando profundas lacunas existenciais. Ainda que eu pretenda passar por sábio ou espiritual, se não concedo ao outro o mesmo direito do qual me percebo possuidor, não terei superado a condição de néscio na arte de bem viver. Possivelmente o tratamento mais indicado para a patologia seja apenas assumir a consciência de que ninguém é melhor do que o seu próximo, até porque não temos todas as respostas nem mesmo conhecemos todas as nuanças do caminho, seja próprio, seja alheio.
Lacunas existenciais
Ariovaldo Esgoti
03/03/2014