É preciso ter olhos preparados para ver, teria dito o Cristo... A beleza está nos olhos de quem observa, teria afirmado o poeta... Ou seja, não há novidade alguma em se defender que num certo sentido a vida não passa de projeção daquilo que carregamos em nosso íntimo. Quem vive proclamando que nada dá certo, que o mundo está tomado pela violência e, dentre outros, que ninguém respeita o próximo ou se importa com ele revela mais sobre si mesmo do que sobre qualquer situação externa, embora isso não retire dos demais a responsabilidade que lhes cabe. O mestre nazareno também teria dito que o que contamina o ser humano é aquilo que ele fala, principalmente quando o discurso está alinhado com as convicções mais profundas. Mas, mesmo a mentira acaba revelando aspectos importantes acerca da natureza do sujeito... Uma forma simples de se determinar a qualidade das crenças que carregamos é observar o teor de nosso discurso, em particular, quando estamos estressados. Nesses momentos usualmente as máscaras caem e nossa realidade interna é desvendada, a despeito do quão piedosos aparentemos ser. Considerando que vivemos para confirmar nossas crenças, é muito mais sábio alinhar as convicções com o tipo de resultado que gostaríamos de obter. Afinal, não se colhem uvas de macieiras nem se constroem arranha-céus sobre a argila.
A qualidade do discurso
Ariovaldo Esgoti
15/11/2013