A. Esgoti

A sociedade adoeceu e não se deu conta disso ainda. Falta pouco para que as conquistas no campo de reconhecimento da dignidade da pessoa humana sejam simplesmente descartadas. As contradições da sociedade contemporânea têm nos colocado em xeque dia a dia. Por mais que se tente não há como serem ignorados os sintomas: bichos estão valendo mais que o ser humano; crime ambiental ameaça ser mais grave que o atentado contra a vida; abandono de animais promete mobilizar muito mais pessoas que a assistência a crianças, adolescentes e idosos desamparados, etc. A persistir o quadro, daqui a pouco seremos forçados a nos converter em vegetarianos, pois nossas referências alimentares irão esbarrar no emergente estatuto da dignidade animal. Corremos o risco até de enfrentar discussões quanto à pena de prisão perpétua ou de morte àquele que insistir no cardápio que contrarie essas tendências. O quadro poderá ficar ainda mais desafiador quando esse ativismo se der conta de que a humanidade também é ameaça à vida vegetal. Aliás, nessa perspectiva, é inegável que o ser humano somente se viabilizou porque subordinou a si todas as demais espécies - o que, entretanto, não justifica, claro, crueldades ou procedimentos desnecessários.