Viver a democracia é algo que pode se revelar bem mais complexo do que parece em princípio, já que corremos o risco de, por exemplo, defendermos a livre manifestação do pensamento somente aos que concordarem conosco. Postura contraditória alguns diriam, mas é justamente o que se constata quando o assunto é política, futebol e religião, isto para que ilustremos com três áreas críticas e que dizem respeito a questões de nosso cotidiano. Se por um lado há consenso quanto ao direito de o indivíduo ter sua própria opinião sobre estes temas, por outro, ai daquele que se atrever a destoar da maioria, ameaçando subverter a ordem estabelecida. A verdade nem sempre bem reconhecida é que somos imaturos nessas e noutras questões, muitas vezes posando de anjos ou demônios conforme a conveniência da situação. Se a coisa ficar realmente séria, somos capazes até de uma autopromoção de dimensões invejáveis, podemos nos converter em semideuses e condenar de uma vez por todas os dissidentes. É nessas ocasiões que um caráter bem formado consegue demonstrar o seu valor, suportando os destemperos da criança que ainda não aprendeu a se firmar sobre os próprios pés, mas que, motivada pelo grupo que também padece dos mesmos males, age como se fosse capaz de controlar tudo a sua volta. O tempo acabará se encarregando dela, contudo, até que efetivamente cresça, a alternativa é dar-lhe espaço para que brinque à vontade e, enquanto for preciso, que aprenda a se levantar de cada queda. Afinal, reza a tradição que "é necessário o fogo para depurar o metal".
Viver a democracia é arte que exige maturidade
Ariovaldo Esgoti
12/07/2013