Dificilmente discordássemos de que fazer caridade é um dom, até porque a própria natureza parece nos conclamar ao alívio do sofrimento alheio, postura que por certo pode contribuir para a formação de um mundo melhor. Mas também é improvável que houvesse consenso no sentido de que a caridade é louvável mesmo quando os da própria casa padecem de inúmeras necessidades. Se, por um lado, é salutar que nos pautemos pela solidariedade, buscando o bem de todos, por outro, abdicar da responsabilidade pelo bem-estar da prole é conduta que serve mais para a demonstração de que o sentimento que impera é o da repugnância ou do desprezo pelo outro, apesar de invariavelmente ele estar ao lado, sob o mesmo teto. Por incrível que pareça, o governo federal tem se especializado nisso. Enquanto uma verdadeira legião de brasileiros não tem acesso aos recursos mais básicos da existência digna, confirmando-o, por exemplo, o caos do sistema público de saúde, primeiro se concede empréstimo externo sem a adequada análise de viabilidade e, segundo, perdoa-se tal dívida, sem levar em conta a necessidade interna das verbas. Independentemente do discurso político em apoio do tratamento dispensado ao país africano, os US$ 900 milhões perdoados acabam se enquadrando naquela categoria especial de "caridade promovida com o chapéu alheio", visto que se trata de recurso público extremamente necessário por aqui mesmo. Somando-se a isto temos "heróis mensaleiros", "bolsa esmola" e "programa educação qualidade zero", dentre outros dos expedientes petistas, os quais se preocupam com quase tudo, menos com a real dignidade do povo brasileiro.
Governo faz caridade com o chapéu alheio
Ariovaldo Esgoti
30/05/2013