Políticas públicas e cientificidade


Está mais do que na hora de ser abandonada no País a prática de se usar dois pesos duas medidas. Por um lado, é de suma importância a recente decisão do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) de desobrigar a adoção do simulador como requisito à habilitação de condutores de veículos, já que a constatação de que sua eficácia não teria sido comprovada torna necessário concluir que, até segunda ordem, o equipamento é, de fato, ineficaz. Por outro, o Ministério da Saúde bem que poderia se inspirar nesse exemplo e rever também sua postura quanto aos tratamentos alternativos incluídos no SUS (Sistema Único de Saúde), visto que, a despeito da eventual popularidade, sua eficácia igualmente não foi demonstrada. Contudo, tal raciocínio tem lá suas consequências, pois, se a regra por excelência realmente for o rigor metodológico dos testes que comprovariam a qualidade dos recursos, o que dizer das demais políticas públicas tão carentes de fundamentação científica genuína? Isso para não cogitarmos ainda sobre os conflitos de interesses cientificistas, em especial com viés marcadamente econômico, que com certa frequência contaminam quase tudo mundo afora.