Quando nos deparamos com algumas atrocidades, que vez por outra dados indivíduos cometem, precisamos tomar o cuidado de não generalizar de forma apressada, pois invariavelmente as convicções, os valores, a filosofia, a profissão etc. defendida pelo sujeito têm quase que nenhuma relação com suas escolhas, principalmente quando o tal afronta a dignidade de seu próximo, a pretexto de satisfazer certa tendência, paixão ou ânsia. Em outras palavras, embora a conduta atroz seja sempre condenável e passível de responsabilização severa, quem, por exemplo, atenta contra a vida ou patrimônio de alguém não o faz porque é cético, religioso etc., mas assim procede provavelmente por ser uma pessoa degenerada, visto que, a despeito da relativa capacidade de escolher caminho superior, uma vez que tenha sido entregue à sua própria sorte, volta-se em particular à degradação. Por outro lado, dificilmente recusaríamos o potencial de influência reformadora do meio sobre o indivíduo, embora, desde tempos remotos, seja a própria pessoa quem no fim dê a última palavra sobre o que influirá em sua índole, escolha esta que, em certo sentido, lhe selaria o destino, pois, em regra, o querer ou conhecer o bem não seria acompanhado necessariamente da capacidade de efetuá-lo. Ou seja, presumivelmente o livre arbítrio seria atributo a priori, enquanto, nessa perspectiva, a capacidade de fazer ou deixar de fazer seria adquirida, a posteriori, portanto... Especulações filosóficas à parte, o fato é que quando a pessoa se dispõe genuinamente a buscar o bem, além da consequente modificação de tendências ou caráter, recebe a capacitação para dar os passos que a mudança efetiva requer, o que confirmaria a existência de uma lei interior, levando o sujeito a pender numa ou noutra direção ética.
Busca genuína
Ariovaldo Esgoti
31/05/2019
