Décadas atrás fez razoável sucesso junto ao público um slogan de certa marca cosmética que afirmava quase que despretensiosamente: "parece remédio, mas não é"... O tempo passou e a criatividade foi deslocada a outras áreas, como, por exemplo, na pseudociência que divulgou recentemente a primeira foto de um buraco negro, a qual validaria uma série de pressupostos de caráter apenas especulativo que vez por outra são invocados na defesa de certa visão de mundo, do universo, enfim, da própria vida; aliás, maculando o bom nome da astronomia. O motivo para tal inferência é bem simples: num exame apressado, a imagem que os pesquisadores divulgaram pode até parecer uma foto, mas não é. Em outras palavras, o leitor atento conseguiria facilmente perceber o engodo, já que a figura não passa de uma composição resultante do uso de uma versão mais complexa de uma espécie de "photoshop". E isso não apenas na opinião de alguns, pois o grave erro pode ser constatado ao examinarmos de forma atenta as explicações da própria profissional responsável pelo "algoritmo-chave" da "arte computacional" em questão, que foi equivocadamente assumida por alguns como evidência empírica de que tais singularidades, se realmente existissem, seriam passíveis de demonstração por tal expediente. O curioso nessa tragicomédia é que o feito cabalmente questionável contou com o aporte de possivelmente milhões de dólares, a julgar pela formação da equipe de "cientistas", pelo instrumental e pelo tempo despendido nesse faz de conta... Bem, de todo modo, roteiristas e escritores podem até ter errado o alvo, mas o poeta permanece atual: "E a vida continua, a despeito de".
Parece, mas não é
Ariovaldo Esgoti
09/05/2019