Por mais que tentemos, há ocasiões em que temas sensíveis não têm como ser evitados, ainda que o ideal fosse a preservação do silêncio, já que usualmente nossas opiniões são incapazes de promover quaisquer mudanças efetivas na vida das pessoas que nos cercam ou com as quais nos deparamos vez por outra. Neste sentido, numa confraternização recente, vi-me com alguma relutância refletindo sobre as consequências dos "golpes" de 2002, 2014 e 2016, além dos efeitos colaterais da recente greve dos "patrões", que, com apoio de movimentos políticos, foi travestida aos desavisados como que pertencente aos trabalhadores. Houve certa perplexidade no grupo, quando um dos presentes indagou: "Como assim, não foi golpe somente o de 2016, quando traíram a Presidenta?" Respirei bem fundo, porque o momento pedia muita calma, respondendo, enfim, ao meu interlocutor: "Há quem discorde, mas fomos traídos, na realidade, em 2002 e 2014, já que em ambos os pleitos nos venderam uma coisa e entregaram outra, em flagrante propaganda enganosa ou estelionato eleitoral. Quanto a 2016 o tipo de golpe foi outro, pois arrumaram uma desculpa para afastar a então presidente, mas abraçaram o seu vice, desrespeitando todos os eleitores, e especialmente os que não votaram neles de jeito nenhum." Não estou certo sobre meu pensamento foi de fato compreendido, porque ele insistiu: "Mas, então você concorda que 2016 foi golpe?" Oh, céus! Dirigi-me a algum lugar em meu íntimo: "Dai-me paciência, pois precisarei ser sábio ao desenhar." Finalmente, reconheci: "Sim, claro, houve um golpe em 2016, já que afastaram somente ela. Afinal, se é que alguém realmente precisava cair, que saíssem todos cuja chapa já nasceu contaminada..." Após ter revisitado esse tema por certo ingrato, preferi dar novo rumo à conversa, pois sempre podemos recorrer a um arsenal de assuntos, para alguns, mais interessantes: "O que você achou do desempenho da seleção brasileira nas últimas disputas?"...
O golpe revisitado
Ariovaldo Esgoti
27/06/2018