Salvo os excessos verificados em algumas regiões do País, a manifestação inicialmente legítima dos caminhoneiros deixou a cambaleante política do contra ainda mais frustrada, pois conseguiu virtualmente afetar direta ou indiretamente o funcionamento de tudo, inclusive dos serviços essenciais dos quais todos dependemos em alguma medida. Em que pese o repúdio também legítimo à conduta dos que se aproveitaram do protesto para difundir o caos, ignorando os direitos fundamentais das demais pessoas, é fato que nem nos tempos de maior inspiração da antiga militância houve tal sorte de desempenho, pois jamais lograra pleno êxito em suas aspirações de alcance nacional. De todo modo, é igualmente inequívoco que, mesmo apoiando algumas das pretensões da classe em questão, a sociedade saiu perdendo desse embate, visto que a paralização verificada nos últimos dias já rende dores de cabeça e assim o fará por um longo período ainda devido aos efeitos colaterais inevitáveis desse movimento, que tomou de muitos para satisfazer momentaneamente a uns poucos. Assim, não há muito que ser comemorado, porque, mesmo estando cabalmente demonstrada a incapacidade do Legislativo e do Executivo, cujo presidente, aliás, é o vice da malfadada chapa que comprometeu a nação, não contamos com nada substancialmente melhor, a despeito dos poucos nomes honestos que, contudo, não têm ainda base de apoio forte o bastante para fazer alguma diferença nesse cenário. Oxalá consigamos prosseguir rumo à superação desse quadro tenebroso, deixando de lado as ingênuas e, às vezes, maliciosas disputas que, ao nos dividirem, enfraquecem-nos. Ou, noutras palavras, que tenhamos maturidade para perceber que, enquanto massa de manobra, a ação irracional de torcidas serve apenas para fortalecer quem almeja quase tudo, menos o bem comum.
Disputas ingênuas
Ariovaldo Esgoti
31/05/2018