Tem gente que, em vez de se elevar mental ou espiritualmente, acaba desenvolvendo o dom de contaminar tudo o que seus olhos alcançam, denunciando como condutas repudiáveis aquilo que na realidade inunda o coração do próprio observador, que ignora estar na maioria das vezes apenas diante de um espelho, quando o comportamento do outro lhe assombra. O alvo dessa gente, que sofre ante a percepção de que o mundo segue um ritmo particular, foi de novo o Padre Fábio de Melo, que ousou numa de suas recentes homilias, defender que o cristão (especialmente o católico) não deveria temer ou buscar um poder fora de sua própria autoridade; ou seja, ainda que com atribuições especiais, que sacerdotes, ritos e cultos não afastariam as prerrogativas do indivíduo. Ora, no contexto desprezado pelos profetas da ignorância, que a pretexto de combatê-lo, incitam ao ódio, o foco real do Padre na mensagem em questão não era o culto de matriz africana, como de forma maliciosa tais militantes divulgaram, mas tudo o que aprisiona a pessoa que depende em demasia de outros, abdicando de suas responsabilidades e capacidades, como se fosse encontrar do lado de fora o que de fato esteve sempre em seu próprio íntimo. Neste sentido, a constatação não poderia ser outra: essa gente desfruta do prazer mórbido de caçar intrigas, em vez de dedicar sua atenção ao que realmente promoveria o bem comum. Noutras palavras, melhor do que se desgastar na vã tentativa de transformar o outro numa cópia de si mesmo seria, se possível fazê-lo, contribuir para o alívio do sofrimento alheio, além de investir no autoaperfeiçoamento, já que a verdadeira mudança começa invariavelmente no próprio sujeito.
Caçadores de intrigas
Ariovaldo Esgoti
23/05/2018