Recentemente me permiti à revisão de algumas velhas obras, cuja distância, sem que eu me desse conta, ameaçava ofuscar o brilho de lições que jamais deveriam cair no esquecimento, mas que, quando nos descuidamos, podem ser entregues à inconsciência. Em especial, num dos tópicos, fui instigado por algumas provocações: Por que os loucos são os outros? Não estamos apegados demais às nossas, às vezes, toscas razões? Nosso olhar está realmente preparado para a realidade, ou já desistimos de investigá-la? E assim por diante... O fato é que tendemos a dar enorme valor às nossas próprias opiniões sobre como as coisas deveriam ser ou sobre qual seria a melhor visão de mundo ou a filosofia de vida mais apropriada, em detrimento de qualquer noção que possa nos colocar em risco, revelando a fragilidade do que poderia não passar de um castelo de areia. Noutros termos, se nos fecharmos, nos apegaremos demais às nossas razões, comprometendo a qualidade do olhar ou inibindo a disposição de apreender de fato a realidade, o que nos levaria à ilusão de que os loucos seriam os outros, a despeito de ser altamente improvável que apenas nós tivéssemos escapado ilesos dessa síndrome ou patologia.
Loucos são os outros
Ariovaldo Esgoti
01/05/2018