Basta nos examinarmos com sinceridade e aos que convivem conosco para confirmarmos que em regra os rituais religiosos são inócuos na promoção de saúde física ou mesmo mental, podendo, aliás, gerar distúrbios variados no praticante que desprezasse os hábitos que realmente proporcionariam a manutenção de uma vida saudável. O motivo para isso no fundo é bem simples: nem vela, incenso, mantra, reza ou prece, nem missa, culto ou reunião de qualquer espécie são capazes de levar a pessoa a melhorar seu estilo de vida ou mesmo a rever seus padrões comportamentais. Aliás, não é por obra do acaso que templos e igrejas de toda sorte estão repletos desde seus presbitérios, sacristias e púlpitos de gente sedentária, inchada ou inflamada e até deprimida, pois a cultura que predomina nesse meio tem como premissa (equivocada ou mesmo enganosa) que bastaria agradar o objeto de sua adoração ou veneração para que tudo ficasse bem. Assim, seja em decorrência de um ledo engano, seja por má-fé, com exceções cada vez mais raras, tais grupos vão contribuindo para o adoecimento da nação, que tem se afastado mais e mais do conhecimento que a libertaria praticamente de todos os males. Afinal, a liberdade é condição geralmente evitada pelos que julgam só ter a lucrar com a servidão dos adeptos ou que temem a emancipação dos seus. De qualquer forma, nem tudo está perdido, pois, ainda que incipiente, ventos de mudança têm soprado aqui e acolá, ameaçando abalar ainda mais algumas estruturas já cambaleantes, que se revelam incapazes de manter cativo o sagrado ante a consciência desperta para o fato de que o templo legítimo (e que merece ser muito bem cuidado) é o representado pelo próprio sujeito, sem intermediários, portanto. Noutras palavras, a dependência de tais estruturas pode ser superada, tornando-se possível sua apreciação em liberdade de consciência, especialmente por aqueles cuja convicção reinante é: "Penso, logo sou!".
Ventos de mudança
Ariovaldo Esgoti
23/02/2018