Pessoas e grupos de diversas tendências filosóficas costumam se levantar quando o assunto, por exemplo, diz respeito ao direito à vida, certamente, propondo algumas questões dignas de nota, pois, no afã de salvaguardar interesses, a sociedade corre o risco de ignorar o nascituro, em especial, quando se tratam de embriões viáveis. Seguramente o tema não é nada simples, mas não creio que abdicar da razão em nome de um pretenso direito natural à vida seja uma boa saída, pois devemos ter em mente que o ser humano, a despeito de ter se sobressaído em aspectos variados, é apenas uma das espécies que habitam este planeta, sendo que a regra para as demais é a genuína seleção natural. Não me refiro aqui à defesa desta ou daquela escola de pensamento nem mesmo ao momento a partir do qual o direito à vida poderia ser invocado, mas à forma intransigente como alguns se portam, desrespeitando o outro na expressão de suas ideias e, se amparado pela lei, nas escolhas que julgue como adequadas à sua realidade. Aliás, o desafio em questão não se restringe ao aborto, já que convivemos com outros assuntos sensíveis, como, por exemplo, o debate a respeito do casamento entre pessoas do mesmo gênero e do fim dos "preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação". Em outras palavras, se o direito à vida é tão sagrado como usualmente se defende, esse pessoal seria muito mais coerente se cuidasse primeiro da sua, conscientizando-se ainda de que, entre pessoas capazes, ninguém tem o direito de impor sua visão de mundo aos demais, principalmente quando isto afronta o que o interlocutor de forma legítima almeja para si.
Direito à vida
Ariovaldo Esgoti
01/11/2017