Se compararmos atentamente o comportamento infantil com o do indivíduo adulto perceberemos que a diferença entre ambos é mais aparente do que substancial. Altera-se o nome das coisas e se sofistica a sua descrição, mas a essência permanece intocada. Tomemos como exemplo o ideal infante de que o melhor final para um conto de fadas usualmente seria aquele tomado pela felicidade, num cenário em que tudo é perfeito ou os problemas e os afazeres não existem. Com a pessoa pretensamente madura acontece algo na mesma linha: excetuando-se os casos patológicos, definha-se de forma vigorosa não só pela fragilidade do organismo mas principalmente pela incansável busca da felicidade. Como nem sempre temos consciência plena desse tipo de processo, os mercadores de plantão tendem a não desperdiçar a oportunidade. Tratam logo de nos oferecer o seu estoque quase que ilimitado de distrações, seja no campo das ideias, seja no âmbito dos bens de consumo. Seguramente não há fórmula, receita ou encantamento que dê cabo do desafio, mas podemos dar um importantíssimo primeiro passo rumo à liberdade ou ao despertar, esforçando-nos para perceber a realidade como ela é, em vez de como invariavelmente se nos apresenta ou é anunciada.
Realismo e conto de fadas
Ariovaldo Esgoti
24/10/2017