Tem causado certo furor a revelação de que o Padre Fábio de Melo sofre de síndrome do pânico, quadro este que, aliás, poderia acometer qualquer pessoa que consciente ou inconscientemente ultrapassasse os próprios limites na convivência com, por exemplo, situações desencadeadoras de estresse intenso. A despeito das especulações aqui e acolá, o fato é que somente o próprio Padre é capaz de discernir quais experiências provocaram ou contribuíram para a instalação do transtorno, que não deve ser subestimado, pois a somatização é uma das consequências do não enfrentamento adequado das mazelas que, se deixadas à vontade, tendem a se acumular em todos nós. A notícia tem gerado respostas variadas de seu público e, em especial, do meio religioso, havendo manifestações de apoio e de votos sinceros por sua pronta recuperação da parte de muitos, enquanto outros, inclusive do clero, de forma contraditória, têm expressado alegria ante ao infortúnio de alguém que em tese seria contado entre os irmãos. Por mais que alguém se ache no direito de criticar um ou outro aspecto do estilo sacerdotal que o Padre Fabio de Melo assumiu ao longo dos anos, apenas pessoas cujo comportamento privilegiasse a hipocrisia conseguiriam lançar pérolas como: "É nisso que dá não usar a batina."; "Cuidou tanto da aparência que se descuidou da essência."; "Deus pesa a mão sobre quem se desvia de sua vontade." etc. Contudo, tais expressões de desumanidade não deveriam nos surpreender, afinal, como registra a História, os que se presumem os verdadeiros cristãos são mestres na condenação de quem pensa ou age de forma diferente da aprovada pelos inquisidores, que, se possível, lançariam ainda hoje na fogueira todos os seus desafetos, demonstrando a fragilidade do amor do qual seriam porta-vozes e, assim, a crise em que se encontra o sistema. O embate é no mínimo curioso: de um lado, um ser humano, um padre sofrendo com a síndrome do pânico; de outro, alguns do clero e do laicato em pânico, já que o Padre, com todas as suas imperfeições, dá demonstrações de afeto e de respeito pelo próximo de uma forma como seus detratores jamais fizeram e que dificilmente fariam, exceto se pudessem capitalizar a partir disso. Além do mais, se há algo que pode ser tido como incontroverso principalmente no cristianismo é que a verdadeira marca de um discípulo, em vez da qualidade teológica dos enunciados de fé ou mesmo dos ritos ou ainda da assiduidade na participação dos ofícios religiosos, seria o amor dispensável de forma indistinta a todas as pessoas. Com certeza, o quadro é absurdo, além de patético, para que se diga o mínimo. Mas não se deve esperar muito de quem se cala ante aos vários tipos de violência que ocorrem a partir das sacristias ou dos presbitérios, fazendo de conta que os pecadores são os outros, particularmente se não comungarem da mesma ideologia que move seus algozes... Sem prejuízo do tratamento, porventura, necessário, tanto no caso do Padre Fábio de Melo quanto no que eventualmente nos diga respeito, a saída para muitos dos dramas, das dificuldades ou dos desgastes que podem ser infindáveis é bem simples, ainda que nem todos o consigam devido aos condicionamentos: qualidade de vida por meio do exercício da liberdade de pensamento, consciência e crença, como nos assegura a própria Constituição.
A síndrome e o sistema
Ariovaldo Esgoti
01/09/2017