A pedagogia dos pais de hoje em dia evoluiu muito, se a comparássemos com o modelo usado pelas antigas gerações, a despeito de haverem pontos positivos e negativos em quaisquer das abordagens. Houve um tempo em que a quase totalidade das crianças era, por assim dizer, sensibilizada a respeitar as autoridades e obedecer aos seus progenitores para que escapassem, por exemplo, do "bicho-papão". Nossos pais usaram e abusaram desse tipo de recurso, recorrendo a seres imaginários para nos deixar com medo, e conseguir nossa pronta adesão às suas vontades ou justificar as suas atitudes. Na maior parte das vezes vivíamos numa espécie de balança: um ser que nos amedrontava, num extremo; outro que nos presentearia, no oposto. Ainda me recordo de uma ocasião em tenra idade, ante ao aceno do "Papai Noel" de plantão, em que recebi como explicação mais ou menos o seguinte: ele deu tchau porque você não se comportou bem, e por isso no natal deste ano você não receberá presente. Já adulto, ao me recordar do episódio, compreendi as razões mais plausíveis da medida, mas na ocasião me senti injustiçado, ficando muito triste, claro. Afinal, que criança não é esforçada o bastante aos seus próprios olhos? Segundo a percepção reinante, o tempo passa e crescemos ou, noutras palavras, desenvolvemos uma percepção de mundo bem diferenciada daquela da criança que um dia fomos. Contudo, nem sempre, nem todos conseguimos nos livrar do ogro que nos aterrorizava ou de sua versão benigna que, se quisesse, poderia nos brindar com boas surpresas e muita alegria. Sim, muitos ainda são atormentados pela versão madura daquele ser imaginário malévolo, dele dependendo inclusive algumas das instituições com as quais convivemos, num tipo de conspiração infernal. Ora, se o "bicho-papão" sobreviveu ao tempo aparentemente implacável, embora com novos adornos ou outra roupagem, o que dizer daquele "Papai Noel" caprichoso, em sua carruagem celestial? Certamente, a resposta é de caráter pessoal, mas basta examinarmos como justificamos o bem em nossas vidas e algumas das estruturas que nos cercam, para confirmarmos que o bom velhinho está mais forte do que nunca, distribuindo agrados, segundo o seu humor. Por outro lado, visto que, na prática, pouco importa o nome que usamos para representar esses mitos e sua pedagogia, considerando que o que faz enorme diferença em nossas vidas são os valores que eles encarnam, precisamos ter consciência do polo que escolhemos para nos ancorar ou pelo qual somos afetados, a despeito de ambos serem faces de uma mesma moeda.
A pedagogia dos pais
Ariovaldo Esgoti
21/07/2017