Sempre há riscos


A despeito dos costumeiros elogios de quem usualmente tem a ganhar com um processo eleitoral como o do Brasil, qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento técnico da matéria admitirá que não há segurança cabal no resultado das votações, em especial desde a adoção irrestrita da urna eletrônica. É claro que o problema não está relacionado ao uso da tecnologia em si, já que caminhamos para um mundo onde a máquina e o software tendem a controlar quase tudo, mas às resistências à revisão de segurança do processo e de seus resultados, e à reflexão da licitude do próprio modelo. Posando de especialistas ou senhores cuja verdade seria incontestável, representantes de segmentos variados da sociedade, inclusive do Executivo, Legislativo e Judiciário, tratam logo de desqualificar quaisquer discussões que admitam a possibilidade de tais máquinas e sistemas serem vulneráveis, como se de fato houvesse algo a temer. Sinceramente, num país em que virtualmente tudo sofre a influência de interesses pessoais em detrimento do bem comum e da genuína licitude, causaria surpresa a constatação de que apenas o processo e a mecânica eleitoral teriam alcançado a perfeição, dispensando os cuidados usualmente recomendáveis... Por esses e outros aspectos é extremamente difícil afastarmos a ideia ou suspeita de que temos sido vítimas de uma completa farsa, até porque uma das condutas que conferem segurança a qualquer sistema é a que admite que sempre há riscos, justificando-se, assim, o monitoramento, a rastreabilidade, a revisão paralela ou externa etc.