Somos seres racionais por definição, mas, dependendo das circunstâncias, podemos contraditoriamente demonstrar certa tendência à irracionalidade, como se um instinto, às vezes animalesco, assumisse o controle de nossas ações. Talvez seja próprio da pretensa maturidade que gostamos de ostentar ou quem sabe seríamos ainda vítimas de uma ânsia ancestral, insistindo em dedicar a própria vida aos cuidados de algum protetor, que prodigiosamente carregasse nossas mazelas. O fato é que não nos têm faltado oportunidades de crescimento, já que a decepção é praticamente certa quando se é crédulo com governantes, legisladores, juízes, políticos, gestores, profissionais ou, dentre outros, líderes de quaisquer categorias. Esse tipo de quadro bem que poderia massacrar a vida dos mais sensíveis e que resistem à percepção da realidade, mas também é capaz de estimular a emancipação do ser humano, pois temos a chance de crescer com os erros que cometemos, ou incorrer em grande estupidez, se persistirmos nessas falhas. Naturalmente isso não significa que devêssemos passar a viver numa bolha, isolados do mundo ou totalmente alheios ao que nos rodeia e que tende a nos afetar de uma forma ou de outra, inclusive porque nossa eventual omissão poderia reforçar contextos prejudiciais a todos nós. Por outro lado, se as ações se revelarem incapazes de mudar substancialmente certas estruturas, não seria sábio insistir ou se desgastar ante a modelos ou sistemas falidos, cuja adesão só se justificaria em alguma medida àqueles que lucram com a desgraça ou ignorância alheia. De qualquer forma, percebamo-nos ou não como responsáveis por qualquer tipo de contribuição à mudança do país ou do planeta, de nada adiantaria tal investida sem que antes nos certificássemos da qualidade de nosso mundo interior, de nossas casas e seu entorno, além da missão ou do ofício que abraçamos, pois a hipocrisia consciente ou inconsciente é incapaz de promover o bem. Noutras palavras, para que o mundo mude, nosso mundo interior deve mudar. Afinal, o que passa disso costuma ser mera propaganda, distração ou estratégia de manipulação ou mesmo de dominação da parte de gente que tende a querer tudo menos o bem comum.
A hipocrisia é incapaz de promover o bem
Ariovaldo Esgoti
16/06/2017