Gestão consciente


Em tempos em que superabundam notícias sobre capitalismo selvagem ou predatório, política e corrupção ou política corrupta, enfim, sobre os reflexos do tipo de pensamentos, sentimentos ou convicções que pautam a vida de muitos, especialmente daqueles que detém recursos ou poder, a tentativa de relacionar gestão empresarial e consciência pode parecer um contrassenso, aliás, como provavelmente pareceria também se a relação pendesse, por exemplo, para a hipótese de uma política consciente no país. A despeito de serem muitos os maus exemplos do capitalismo mundo afora, é inegável que outros tantos têm resistido à tentação do lucro fácil ou a qualquer preço, obtendo o justo resultado de seus investimentos à custa de profunda dedicação ao intento de satisfazer necessidades reais, sem destruir ou prejudicar pessoas ou o próprio meio ambiente. De forma análoga, apesar das péssimas lições, principalmente de lideranças políticas mas também de representantes ou membros de setores variados da sociedade, que mergulham na criminalidade ou flertam avidamente com os limites da ética em nome de uma pretensa legalidade, há os que com sinceridade trabalham pela construção de um novo Brasil, que sonham com o dia em o país emergirá passado a limpo. Independentemente de partidarismos, ideologias ou sistemas, que não passam de instrumentos nas mãos de quem lhes confere sentido ou define objetivos, a verdade é que o mesmo ser humano que cria ou de alguma maneira contribui para manter o caos pode mudar o quadro, bastando que consiga enxergar os demais e compreender que suas ações reconfiguram o mundo diariamente, não apenas o seu mas em alguma medida o de todos. Por outro lado, isso não significa que devamos aceitar a existência impune de empresas, partidos, instituições, gestores, membros ou colaboradores que pervertem tudo por onde passam ou que tocam, como se o seu dom fosse o toque de Midas ao contrário, deixando, em vez de ouro, um rastro de destruição. Certamente que não, pois são merecedores da aplicação de penas severas, devendo abrir espaço para que gente realmente digna possa atuar em tais estruturas, redefini-las e justificar, se for o caso, a sua existência. Entretanto, ainda que alguns ou muitos se dediquem à exaustão à defesa do bem comum, há o risco de nada mudar substancialmente, visto que cada ser humano é senhor de si, por mais mesquinha ou avarenta que seja a perspectiva daquele que decide resistir enclausurado em seu castelo de ilusões. Considerando que no fim cada um produz segundo a qualidade da semente que é ou tem em si, cabe-nos avançar: ainda que limitados pelo alcance aparentemente inexpressivo de um simples grão de areia; seja na empresa, seja em qualquer instituição ou lugar; mesmo que como vozes solitárias. Afinal podemos ser e fazer a diferença, a despeito de; isto é, com consciência.