Tornou-se um bordão defender que o estresse seria o mal do século, mas a verdade é que este estado não passa de consequência do estilo de vida de quem na maioria das vezes não tem consciência de suas escolhas no dia a dia. Ficamos tão viciados na justificativa desta reação do organismo à excitação emocional, que, sem nos darmos conta, alimentamos uma indústria, que não perde tempo ao explorar o tema quase que à exaustão, anunciando inúmeras ofertas aos desavisados: editores se empenham na seleção de títulos e autores cujos livros sejam potenciais best-sellers da autoajuda; promotores ou organizadores de eventos se devotam a incontáveis palestras e cursos pretensamente revolucionários; terapeutas, instrutores ou coachers não medem esforços nem limitam a criatividade para vender a felicidade contínua e instantânea; religiosos, mestres ou gurus se consagram ao controle de súditos cujos olhos e ouvidos se mantêm cativos de seus avatares, esperando milagres etc. Ainda que esbocemos certa resistência intelectual, o fato é que enquanto nos permitirmos à distração crônica seremos presas fáceis nas mãos dos aproveitadores de plantão. Nem sempre é tão simples o processo de esclarecimento e a conquista de consciência ou pensamento livre, mas é improvável que encontremos via melhor para nos curarmos de muitas de nossas mazelas, inclusive do estresse que tende a comprometer a saúde física e mental e que pode ainda riscar muitos do mapa. Não, ele não é genuinamente o mal do século, mas apenas o resultado de uma vida desatenta, desconectada do presente, distraída por ruídos internos e externos ou iludida por necessidades e soluções artificiais. Enfim, apesar dos desafios que muitos precisam superar nesse tipo de caminhada, se aprendermos a manter a atenção plena no aqui e agora, descobriremos, de fato, que há um mundo em nós e à nossa volta que nos reflete a qualidade do olhar.
O estresse não é o mal do século
Ariovaldo Esgoti
01/06/2017