Não sei o que é mais tragicômico: se as discussões sobre a legitimidade da representação política, num modelo em que quem detém o poder usualmente defende o próprio interesse, ou se o debate sobre a representatividade sindical, num sistema em que os trabalhadores têm que retirar de seu sustento para bancar quem, de fato, não os representa. Embora suspeitemos que nem todos sejam corrompidos no processo, sabemos que infelizmente boa parte desses grupos caminha na contramão do bem comum, preocupando-se acima de tudo com o orçamento que lhe bancará as regalias e com as estratégias que usará na política do pão e circo. O ideal seria que esse povo fosse escorraçado de seus castelos, mas a coisa é tão bem engendrada que quem se atreve a questionar ou discordar corre o risco de passar por rebelde, subversivo ou anarquista, sendo ainda censurado ou perseguido pelos correligionários. Por outro lado, não se pode esperar muito de uma sociedade em que o ser de esquerda ou de direita vem antes que o ser humano, em que o cuidado com os animais é prioridade em relação às necessidades do próximo, em que o fruto da corrupção fascine a tantos ou em que o ter é superior ao ser, a despeito de o problema não estar na defesa de dada ideologia, no cuidado com o meio ambiente ou ainda no acúmulo legítimo de bens, pois o desafio é certamente de outra ordem. De qualquer forma, a jornada provavelmente será longa e o caminho promete estar recheado de espinhos, contudo, visto que ficar à mercê de manipuladores profissionais não é alternativa viável, é preciso dar o primeiro passo, dominando a arte de pensar fora da caixa. Afinal, a coisa que os hipócritas mais temem, especialmente os que controlam instituições formadoras de opinião, é a consciência livre.
Política do pão e circo
Ariovaldo Esgoti
06/04/2017