O ano se encerrou, mas os seus desafios não. O que significa que em 2016 ainda conviveremos com os prováveis desdobramentos das operações da Polícia Federal, com os malabarismos da combalida política brasileira, com as oscilações do mercado, com os riscos econômicos etc. A lista de fatos que podem comprometer bem mais o sono do cidadão comum é enorme, contudo não poderíamos deixar de lado os dramas da saúde no país e especialmente a forma desastrosa como certas endemias têm sido abordadas, sendo inclusive flagrante o desrespeito à nossa inteligência. Dengue, Zika e Chikungunya se tornaram expressões repetidas quase que à exaustão por governos ineptos e mídias reféns da desinformação. É como se julgassem que mantras fossem o bastante para solucionar as consequências patentes do descaso e da má administração pública. Nesse campo em particular duas situações têm chamado a atenção: a forma como a agência reguladora vem tratando a pílula contra o câncer e a conduta do governo em relação à microcefalia. As abordagens são tão falaciosas que ou esse povo flerta com a estupidez ou o caso é de polícia mesmo. A constatação não poderia ser outra, pois quando a Anvisa (e também alguns especialistas nada imparciais) tentou justificar sua resistência à liberação do medicamento apelou para a falta de evidências favoráveis à sua eficácia. Já nos casos das vítimas da microcefalia, sem que houvesse qualquer estudo conclusivo, lideranças políticas e especialistas não titubearam, apresentando o vírus Zika como sendo a causa mais provável. Junte-se a isso a gana da indústria farmacêutica e o quadro está pronto para que a população pague a conta de novo. O fato é que somos constantemente bombardeados por (des)informações, além de dados esparsos, sobre uma enorme variedade de temas, o que torna imperioso àquele que deseja realmente (sobre)viver, e oxalá caminhar com qualidade de vida, o aprimoramento da arte de pensar com liberdade e autonomia. Curiosamente, cerca de dois mil anos atrás, um clérigo teria aconselhado: examinem todas as coisas, retendo o que for proveitoso. A mesma fonte também orientou para que os hábitos de pensamento fossem renovados. Em outras palavras, a responsabilidade continua sendo de cada um de nós. Na prática, ou fazemos o que precisa ser feito ou nos contentamos com o que vier. Neste último caso naturalmente de nada adiantaria reclamar depois.
O ano se encerrou, mas os seus desafios não
Ariovaldo Esgoti
31/12/2015