A Organização Mundial da Saúde (OMS) incorreu em erro grosseiro ao emitir recentemente uma nota para esclarecer que não recomendou que as pessoas parassem de consumir carnes processadas. No relatório divulgado anteriormente o órgão apontou o risco cancerígeno advindo do consumo, em particular, se excessivo desses produtos, fazendo-o de forma similar a de outras manifestações. O problema para quem tem interesses prejudicados pela propagação que tende a assumir esse tipo de informação é que o fluxo de caixa pode ser afetado quase que instantaneamente. Não foi a primeira vez que isso aconteceu e provavelmente não será a última. A lição é a de que ou o empresariado assume o seu papel com seriedade ou terá que arcar com as consequências da flagrante irresponsabilidade. Daqui por diante a tendência é a de que cada vez mais as pessoas se preocupem com a qualidade dos produtos alimentícios, inclusive pelo potencial de prevenção à saúde associado a alimentos mais adequados às reais necessidades humanas. Quando à OMS o equívoco em questão foi imaginar que a divulgação de que o consumo de produtos alimentícios altamente processados tem potencial cancerígeno não iria se refletir na gôndola ou no interesse do consumidor. Estranho teria sido justamente o efeito contrário. O que se verifica no episódio na realidade é apenas o resultado da pressão de grupos econômicos, que temerosos do alcance daquela divulgação tentam a todo custo abrandar seus efeitos sobre os negócios, invocando, por mais absurdo que pareça, o raciocínio de que as pessoas só adoecem porque respiram. Em termos práticos esse embate entre industriais e pesquisadores acaba servindo de alerta à população no sentido de que sua saúde e seu bem-estar não podem ser terceirizados, porque confiar qualquer aspecto da vida em mãos comprometidas pela parcialidade implica em depender justamente de quem só tem a ganhar se tudo for de mal a pior.
Apenas negócios
Ariovaldo Esgoti
30/10/2015