A. Esgoti

Enfrentamos crises variadas nas últimas décadas, mas não me recordo de nenhuma que tivesse contornos tão dramáticos quanto os de agora. Agravando o quadro passamos a conviver com uma desconfiança generalizada de governos e políticos, além de ser cada vez mais evidente a existência de conflitos de interesses em negócios, projetos, pesquisas etc. Vivenciamos ainda crises no campo da moral, da ética, da religião e, dentre outros, do saber científico, que se tornou flagrantemente instrumentalizado. Estamos às voltas com discussões e debates quase que infindáveis sobre virtualmente tudo. Pseudos especialistas se multiplicam de forma exponencial, enquanto o cidadão comum permanece alheio, às vezes, ignorando até os dramas de sua própria família. Se nos atentarmos para as lições da História perceberemos que problemas vêm e vão, que impérios podem ser erguidos e ruir sem grandes dificuldades, que crises podem ser sucedidas por prosperidade, além de renovadas, fechando um ciclo quase que perfeito. Certamente há o risco de sucumbirmos ao pessimismo de visões mais estreitas, contudo podemos dar asas a um realismo mais otimista, o que nos permitiria superar essas crises, encarando-as como desafios. Não temos como contar com receitas de bolo ou rituais mágicos, além de ser inevitável a conclusão de que mesmo a Ciência não possui todas as respostas. Todavia, se realmente pretendemos avançar, é necessário que adotemos estratégias adequadas ao enfrentamento dos desafios que encontramos em nossa jornada, principiando com o desenvolvimento da capacidade de examinar as situações em busca de saídas. Em outras palavras, a primeira das crises a ser vencida é a do olhar, da percepção... Posteriormente poderíamos nos ajustar às demandas pelo conhecimento técnico, incentivar a criatividade, investir em reorganização ou, conforme o caso, em inovação... Enfim, cabeça em ordem, corpo bem cuidado, espírito reanimado, relacionamentos interpessoais equilibrados etc. há que se voltar ao trabalho, já que só por ingenuidade alguém iria supor que a inércia seja capaz de criar algo.