A Anvisa está de parabéns


Apesar de tardia, é elogiável a iniciativa da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a respeito das novas regras para as embalagens de cigarros, tornando obrigatória a menção de que: "Este produto causa câncer. Pare de fumar". Alguns possivelmente até defendessem que a mensagem não é rigorosamente correta, visto que é razoável o número de casos de fumantes que mesmo após longos anos de submissão ao vício não apresentaram qualquer sintoma da patologia, invariavelmente, vindo a óbito por outros fatores. Mas, considerando que as substâncias presentes no produto são, de fato, potencialmente cancerígenas, devemos concordar com a postura conservadora do órgão regulador, pois a saúde do ser humano é um campo que não permite testes ou brincadeiras capitalistas. A Anvisa está de parabéns. Seria muito interessante se a medida alcançasse ainda outros produtos como, por exemplo, os alimentícios e medicamentosos, pois não são raros os casos em que um ou mais dos ingredientes usados têm efeito nocivo sobre o organismo atingido pela formulação. No caso dos medicamentos ninguém deveria alegar ignorância, pois a lista de efeitos colaterais normalmente destaca os riscos a que a pessoa fica exposta pelo consumo da fórmula. O problema é que se, por um lado, poucos têm paciência para ler a bula, por outro, muitos sofrem da mania de automedicação. Em se tratando de alimentos o quadro fica realmente delicado. Nas últimas décadas, alimentos de verdade foram simplesmente substituídos por produtos que falsamente prometem saúde, induzindo o consumidor a erro ao escolher o que irá ingerir de forma rotineira. Passamos a conviver com excesso de açúcares, de sais, de conservantes e de outras tantas substâncias potencialmente nocivas à saúde. Assim, não deveria causar surpresa o comprometimento da qualidade de vida da maioria das pessoas. Isso, aliás, tem levado alguns pesquisadores a classificarem a sociedade atual como obesogênica. Certamente não se trata de cultura da magreza, pois a situação tem ficado dramática dia a dia, com doenças variadas florescendo no curto, médio ou longo prazo, dependendo do tempo de exposição aos agentes patogênicos que esses produtos carregam. Não raro, além do mais, magros subnutridos também pagam pelo erro com a própria vida. Embora os rótulos normalmente contenham muitas informações, infelizmente a população não é informada sobre os verdadeiros riscos do consumo e do real significado de muitos dos ingredientes, que costumam ser apresentados travestidos de saudáveis, a despeito de poderem funcionar como venenos no organismo. Quem sabe não cheguemos um dia a encontrar embalagens com dizeres semelhantes a: "Este produto pode comprometer a sua saúde. Prefira alimento de verdade." ou "Isto não é alimento e pode acabar com a sua saúde. Alimente-se de verdade." etc. A indústria iria resistir a isso até aonde fosse possível, claro. Mas, alcançado o ponto em que a medida se tornasse irreversível, semelhantemente ao que acontece com o tabaco, é bem provável que ainda continuasse lucrando, pois quantos realmente estão dispostos a assumir o controle da própria vida, abdicando do prazer que as ilusões anunciam? Seguramente é muito mais fácil não pensar por conta própria e permanecer aguardando sabe-se lá o que.