Direito à livre expressão e direito à vida


Objetivamente, não adianta a vítima estar coberta de razão, sem que sobreviva para contar a história. Enquanto a cultura da massa (de manobra) não muda efetivamente, é muito bem-vindo o agir com cautela. Agora, se a pessoa quer exercer o seu direito de expressão doa a quem doer, paciência, estará sujeita a consequências, independemente de serem lícitas ou não. Certamente, nada justifica o erro, o excesso, a injustiça, a ilegalidade, a barbárie etc., contudo não estou convicto de que pagar com a própria vida ou a de qualquer dos seus na defesa de um direito seja uma alternativa viável. O problema é que muitos bradam, bradam e bradam, sem refletir sobre os riscos de suas estratégias. O que parece estar ocorrendo com alguns, talvez com muitos na sociedade, é que se esqueceram, se é que aprenderam realmente, da importância de se ponderar os interesses ou, no caso, os direitos envolvidos. Ora, se por um lado os editores do "Charlie Hebdo" tinham o direito à livre expressão, por outro, é inegável que também tinham o direito à vida. Entretanto, no caso concreto, principalmente se houver algo a ser feito de primeira mão, se não pudermos ter ambos, qual dos direitos privilegiaríamos? A resposta me parece um tanto óbvia. Em outras palavras, a equação é tão simples que talvez por isso muitos se atrapalhem com a questão. Mas, "se tens um caso de amor com o martírio", resta-nos assistir, infelizmente.