Há quem conceba que a educação teria o papel de inverter a dominação social, assim entendida a que apoiaria o eterno conflito de classes, conforme pressupôs Marx e especialmente os construtos que se lhe seguiram. Entretanto, ainda que o apelo possa atrair a atenção de desavisados, a proposta é contraditória, pois se a dominação denunciada simplesmente se invertesse continuaríamos com um quadro de flagrante desequilíbrio, pois, como a própria história demonstra, na revolução, dominados tendem a se converterem em dominadores. De qualquer forma, é impensável a ocorrência de mudanças, por menores que sejam, à parte de um processo educacional ou de renovação da cultura vigente, afinal o ser humano é produto de crenças e convicções, que podem e, na verdade, devem ser recicladas. Independentemente dos objetivos ideológicos que lhe sirvam de pano de fundo, a humanidade ainda não concebeu nada superior à educação, como instrumento ou recurso de emancipação do próprio ser, o que justifica esforços em prol de sua melhoria. Neste sentido, a escola tem um papel de suma importância, pois, a despeito de não substituir a família, pode exercer forte influência no amadurecimento da personalidade do indivíduo, o qual, se estimulado adequadamente, tenderá a contribuir de forma significativa para o aperfeiçoamento pessoal e também da sociedade em que vive. Em outras palavras, com educação de qualidade, ganha a pessoa, ganha a sociedade inteira. Mas é preciso que superemos a noção já ultrapassada de conflito de classes, até porque esse tipo de embate só serve para alimentar modelos acadêmicos, ideológicos ou políticos flagrantemente inúteis. A educação que pode efetivamente contribuir para emancipar o gênero humano é aquela capaz de resgatar o que a humanidade tem de mais essencial: sua inalienável irmandade.
Educação emancipadora
Ariovaldo Esgoti
02/10/2014