O economista Antonio Delfim Netto aparenta saber realmente das coisas. Com frequência acentuada suas observações sobre os rumos do país são extremamente ponderadas; aliás, como também são as análises de outros dos grandes nomes desse campo de estudo. Recentemente, em entrevista ao Estadão, ao analisar os efeitos da retração econômica no país, Delfim Netto defendeu que: "Numa larga medida, o crescimento é um estado de espírito. Só cresce quem acredita que vai crescer...". Em sua perspectiva tem tido enorme influência sobre os rumos da economia a expectativa do empresariado e das demais pessoas ao se deixarem abater diante dos desafios atuais. Dentre as considerações realizadas, com brilhantismo, o professor esclareceu que à medida que a crença de que é possível crescer é destruída se confirma a redução do crescimento, pontuando ainda que isso se dá "como se fosse uma profecia que se autorrealiza". Não se trata, naturalmente, do enunciado de um novo princípio, visto que o conceito vem sendo difundido desde tempos imemoriais. Além disso, a despeito da desconfiança de olhares mais céticos, o fato é que testemunhamos o valor dessa diretriz no dia a dia, seja na aprendizagem ou performance, seja, dentre outros, na qualidade de vida. Quem acredita na possibilidade de ser bem sucedido tende a se esforçar mais na realização de seus objetivos, enquanto quem duvida, por mais que se recuse a admitir e ainda que empreenda enorme esforço, tende a se autossabotar, podendo confirmar suas intuições mais sombrias. Contudo, embora de suma importância, não estamos diante uma panaceia, afinal o verdadeiro pensar ou a legítima crença não garante por si que tudo se seguirá conforme idealizado. A equação da vida certamente é bem mais complexa do que pode supor a nossa, às vezes, vã filosofia. Apesar disso, mesmo que apenas ou principalmente para aumentar as chances de se conservar a boa saúde ou a qualidade de vida, é muito melhor o enfoque otimista.
Economia e expectativa
Ariovaldo Esgoti
09/09/2014