Somos o resultado de nossas ideologias, e com uma frequência assombrosa governados por sistemas de crenças cujas origens podemos ignorar completamente. Como defendeu o filósofo: "O coração tem razões que a própria razão desconhece". Ainda que tentemos desprezar, o fato é que os pensamentos e sentimentos que acalentamos no dia a dia influenciam ou determinam os comportamentos que expressaremos nas mais variadas situações, às vezes, perpetuando-se como hábitos. Aliás, uma das características marcantes das crenças que carregamos é que elas tendem a se distribuir pelo inconsciente, podendo nos deixar perplexos quando decidimos reciclá-las. São dogmas ou tabus, coisas proibidas às mentes sensíveis. Contudo, detectar sua influência não é tarefa por demais difícil ao olhar atento. Resistência, indisposição e desconfiança, dentre outras manifestações, podem ser indicadores de que nos deparamos com alguma contradição que precisa ser enfrentada. Quanto mais cedo nos conscientizarmos disso melhor. Afinal, dependendo do que estiver em jogo, pode ser possível administrar o risco de danos potenciais, eliminando ou, conforme o caso, reduzindo-o. Poderemos ainda ser fortalecidos por essas experiências. Por outro lado, percebermo-nos ou sentirmo-nos em fluxo com os acontecimentos da vida, contanto que tenhamos feito a lição de casa na situação concreta, pode ser indício de que estamos na direção correta ou na mais indicada para o momento. O tempo o dirá. Alguns chamariam a isso simplesmente de intuição, enquanto outros poderiam preferir designá-las de respostas biopsicossociais. Naturalmente há espaço para os que poderiam ainda privilegiar os contornos relativos à espiritualidade. O certo é que a terminologia é que o menos importa nessa equação, pois a capacidade de elaborar um tratado sobre os aspectos filosóficos ou mesmo científicos dos comportamentos humanos não é garantia de que possuiremos a habilidade de alcançar o melhor resultado possível. É mais ou menos como o embate sobre se de um modo geral na vida é mais indicado ser otimista ou pessimista. É puro desperdício de tempo, pois temos acesso aos dois modelos de comportamentos, além de estarmos sujeitos a desvios patológicos em ambas as direções. Assim, considerando que não dispomos de nada que seja superior ao autoconhecimento, estará em larga vantagem quem se aprimorar na arte de formar, modificar ou extinguir comportamentos, adotando os hábitos mais apropriados aos objetivos escolhidos e às metas traçadas.
Autoconhecimento, ideologia e comportamento
Ariovaldo Esgoti
04/07/2014