A compreensão usual do que seria o catolicismo é colocada em xeque diariamente pelos próprios adeptos, sejam do clero, sejam leigos, apesar do discurso que, em regra, se utiliza para a defesa do modelo. Dentre outras contradições, se concebe que o ato sexual serviria somente à procriação, enquanto na prática vislumbramos o controle da natalidade. Não fosse assim, as famílias católicas atuais seriam tão numerosas quanto as de outrora... Em tese, a tradição e o magistério da igreja seriam fontes primárias para a defesa da fé, em detrimento inclusive das escrituras reunidas no compêndio que o clero designou de bíblia sagrada. Contudo, historicamente é fato: a tradição e o magistério não passaram de elaborações concebidas para legitimar um modelo sacerdotal que era veementemente rejeitado pelos primeiros cristãos... Os desvios são flagrantes. Aliás, já não há mais como se impedir a difusão das evidências que denunciam de forma cabal os métodos usados por essa estrutura eclesiástica para que prevalecesse sobre os demais cristãos primitivos. A despeito de pontuais resistências, o exame acurado dos documentos que a história tem resgatado nos coloca diante da constatação de que o cristianismo vencedor não guardou virtualmente nenhuma relação com o ensino e a prática dos primeiros seguidores do caminho. Neste sentido, chama a atenção o esforço do papa Francisco pelo estabelecimento de uma igreja virtuosa, que se distancie dos antigos males, aproximando-se das condutas que os primeiros discípulos teriam defendido. A jornada promete ser longa, mas não há alternativas. Ou a igreja se transforma em uma instituição realmente acolhedora e inclusiva ou perderá de vez o contato com qualquer referencial de respeito e consideração pela humanidade.
Contradições
Ariovaldo Esgoti
27/06/2014