No meio religioso cristão há basicamente duas principais posturas quanto ao uso das escrituras reunidas no compêndio designado de bíblia: desestimula-se ainda que veladamente o contato com os textos, minando-se a autoridade das ideias de seus autores, ou se investe na utilização fragmentada dos enunciados, normalmente, ignorando-se os respectivos contextos que denunciariam o estratagema. Seguramente não é o único caso, mas a doutrina em torno da prática do dízimo ilustra com propriedade o problema: sempre que é conveniente, promove-se a leitura dos antigos textos como se tivessem sido endereçados às pessoas de hoje, pressionando, às vezes, ao extremo o indivíduo para entregar tudo o que possui. A desonestidade de tal abordagem é assombrosa. Examinando o contexto facilmente perceberemos que dízimo nunca foi dinheiro e que os alimentos em questão, quando não se destinavam ao consumo do próprio clã, deveriam ser entregues aos necessitados em geral - jamais para fomentar a ganância do sacerdote... O pecado é capital - noutras palavras, o caso é de polícia... Uma das consequências desse tipo de desvio é que o indivíduo não pode mais se dar ao luxo de confiar cegamente na liderança religiosa, até porque se, por um lado, antes os tais eram tidos por embaixadores da divindade, por outro, passamos a dispor de evidências que confirmam que eles não devem ser alvo de quaisquer privilégios.
Fora de contexto
Ariovaldo Esgoti
25/06/2014